É tudo pra ontem… também no Chile
Ontem, sexta-feira, a polícia chilena, os Carabineros, assassinaram a queima-roupa um malabarista en Panguipulli, uma pequena cidade no sul do Chile. Francisco, malabarista, morador de rua, conhecido por toda a cidade, até pelo prefeito, foi assassinado em um controle de identidade. O controle de identidade é uma prática de ditadura que foi reinstalada pelo congresso em 2016. Francisco não tinha dinheiro para pagar seu RG, por isso não tinha “identidade”. Panguipulli ardeu, literalmente, na mesma noite.
O Chile vai avançando cada dia mais nas práticas fascistas, onde uns tem o direito de viver, de ter identidade, e outros, não. Isso fica mais evidente com as expulsões sumárias de migrantes, incluindo crianças de nacionalidade chilena. Sabem quando foi a última vez que chilenes tiveram que sair do país obrigados, exilados? Na ditadura do Pinochet.
Nestas últimas semanas chegaram 1.500 migrantes da Venezuela na fronteira da Bolívia com o Chile, numa pequena cidade chamada Colchane de maioria Aymara. Famílias que, desesperadas, acreditaram, graças a imprensa, que o Chile é um país próspero e da liberdade, algo assim como um Estados Unidos do Sul. Mas elas se depararam com um Estado e um governo que não tem interesse nem preparo para recebê-los. Em Colchane morreram de frío duas pessoas migrantes e qual foi a resposta do governo chileno? Assinar um decreto para militarizar as fronteiras e assim evitar que cheguem mais pessoas migrantes. No Chile não existe humanidade, existe dinheiro, ele circula livre, as pessoas não.
Tudo isto acontece em um contexto de um proceso por uma nova Constituição e onde, há poucas semanas, se aprovou uma nova Lei de Migração redigida sem a participação das comunidades migrantes e altamente rejeitada pelas organizações da sociedade civil. Esta nova lei consegue ser pior que o decreto que a antecede, que vem da época da ditadura do Pinochet.
Seria muito longo analizar tudo que está acontecendo no Chile neste momento, mas o que é certo é que o tal de “Oasis” como disse Piñera, não existe.
Eu só espero que, como Humanidade, elevemos nosso nivel de consciência e empatia, consigamos ver que “o progresso de alguns é o progresso de ninguém” como disse o Silo e que ao contrário o retroceso ou o sofrimento de outros é o sofrimento de todos nós.
E como disse o Emicida: É tudo pra ontem.
Texto: Andrea Carabantes
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