A Gravidez, a Amamentação e a Maternidade - Um depoimento
As experiências da gravidez, do aleitamento e da maternidade são diferentes para todas as pessoas. Essas experiências foram muito desejadas por mim. Eu nunca imaginei ter um filho tão longe da minha família na California. Migrei para o Brasil há 5 anos com meu marido Brasileiro sem pensar no fato de ter um filho que seria brasileiro (ou seja, Brasileiro-Estado Unidense). Ao decidir começar esse caminho para a gravidez, achei linda a ideia de aumentar minha família com meu marido no meu novo lar.
Eu tinha uma imagem mental sobre a gravidez bem idealizada no principio dessa viagem de nove meses, mas isso mudou rápido. Com 19 semanas de gravidez sangrei. Sangrei e meu marido e eu corremos para o hospital com medo do pior. Descobrimos que eu estava com dilatação previa. Houve a possibilidade de eu entrar em trabalho de parto já e perder meu filho que nem tinha como respirar ainda. Eu tive que ficar em repouso total, tomar progesterona e fazer muito seguimento medico. Sou uma pessoa bem inquieta e ficar parada foi um desafio. Essa inquietação combinada com o medo do meu corpo não poder sustentar a gravidez foi ainda mais complicado. Antes de engravidar, eu pensava que a gestação ia ser a experiência mais empoderadora da minha vida, mas eu acabei me sentindo bem frágil e que de certa forma havia falhado por precisar de tantas intervenções medicas. A gravidez e o parto podem ser os processos mais naturais para uma pessoa, mas as vezes tem dificuldades ou complicações e as vezes a gente precisa de mais seguimento e/ou intervenções- é uma das razões porque lutamos para cuidados pré-natais acessíveis, integrais e humanizados. Eu tive que perdoar meu corpo porque fiquei com ressentimento pelo fato de ter que aceitar essas intervenções. Tive o privilegio de ter acesso a cuidados pré-natais adequados e respeitosos e apoio emocional de família e amigues. Tive muita sorte que não entrei em trabalho de parto prematuro. No final, meu filho, Diego, entrou nesse mundo no seu tempo, com 41 semanas de gestação no parto vaginal depois de 28 horas de trabalho na véspera de Carnaval.
Depois do pessoal do hospital pesar e medir o Diego, eu estava emocionada, mas com medo das possíveis dificuldades da amamentação após uma gravidez que precisou de atenções especializadas. Ao receber Diego nos meus braços, ele pegou meu bico de peito de primeira e foi o momento mais lindo do meu parto e pós-parto para mim. Até hoje, ele segue firme e forte na amamentação.
No final, a amamentação tem sido a experiência mais empoderadora da maternidade para mim. Amo ver meu filho crescendo, sabendo que a força e a saúde dele vêm do meu corpo. A amamentação é um momento especial entre nós e eu sinto um vinculo com ele nas minhas raízes. Ser mãe longe da minha família na California é difícil. As vezes eu me sinto bem isolada por ser de outra cultura e por não ter minha rede familiar aqui, mas na amamentação eu vejo que estou criando um laço ainda mais forte com meu filho e não me sinto tão sozinha.
Entretanto, às vezes, a amamentação é difícil, mas não por conta do ato em se. Já foi falado por outros, mas é importante reforçar que quem fala que amamentar é de graça, não valoriza o tempo da mulher. É dificilíssimo trabalhar nesse mundo capitalista e amamentar. Isso é uma das razoes pelas quais a licença de maternidade é imprescindível, assim como as necessárias acomodações para lactantes no trabalho.
Muitas vezes é difícil andar na rua e amamentar, ou porque não tem espaços para eu sentar com ele para dar-lhe o peito ou porque pessoas mostram constrangimento ao ver que estou dando peito em público. Precisa-se de uma mudança na cultura para fazer com que todo mundo entende o aleitamento como uma coisa natural e importante para encorajar e facilitar.
Amamentação nunca deve ser um privilegio, mas por questões econômicas, sociais e culturais, o aleitamento materno não é uma opção para muitas pessoas. Inúmeras pesquisas mostram que a amamentação é o jeito mais saudável de alimentar os nenéns. Fortalece o sistema imunológico, ajuda no desenvolvimento do cérebro, fortalece o vinculo entre mãe e filho e previne muitos problemas de saúde para a vida toda como diabetes e asma. Estimular a amamentação é uma questão de saúde púbica e coletiva. Nem todo mundo consegue amamentar, apesar disso todas as mães e os pais vão achar um jeito adequado para nutrir seus filhos. Mesmo assim é vital fornecer todos os recursos necessários para facilitar o aleitamento materno e tirar as barreiras para as pessoas cuidarem dos seus filhos pequenos, especialmente em espaços públicos e no trabalho. No final, tirar barreiras para as lactantes amamentarem facilita o cuidado de todos os bebes e cria um mundo mais saudável e amigável para pessoas com crianças pequenas.
Texto por Sam Serrano
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